domingo, 27 de dezembro de 2009

O momento é de transição

De repente começou a escoar... com prazer,
como se eu houvesse morrido
e de mim saísse tudo que por tanto tempo escondi.
Mas, vá lá, o meu sangue é vermelho
e minhas vísceras medonhas, como as de todo o mundo!


A possibilidade de dar um passo atrás existe
mas, não me encanta.
Sinto uma angústia com alegria
que jamais pensei que se misturassem tão bem.
Relembro o que vivi e não se resolveu...
sinto que a saudade do que não vivi fala mais alto. `As vezes até grita.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

o passado me condena

Esse texto e o pequeno publicado no dia 16/12 eu escrevi em outros momentos da minha vida. Faz tempo, e cada um foi de uma situação diferente. Mas, como vejo várias pessoas passando por coisas parecidas, resolvi postá-los.


Ventos e Ventanias

Hoje amanheceu ventando muito. E quando tudo é de vidro, você sabe, pode se quebrar a qualquer instante.
Aqui em casa as vidraças batiam e o vento gritava sem parar. As árvores vergavam de um lado para o outro como se estivessem para cair. Que bom deve ser o ato de ventar….e eu até conheço bem…
Ontem eu não só ventei, mas, joguei raios e trovões inexplicáveis, cuspidos como flechas envenenadas, correndo contra sabe-se lá o que! Talvez em direção a mim mesma…
Têm momentos em que a vida parece toda tão braba que a gente já nem sabe mais a quem se dirigir e acaba sobrando para aquele ali mais próximo, aquele mesmo, que está sempre ao lado, o companheiro!
O fato é que só vemos nos outros o que temos em nós mesmos. Infelizmente, só de vez em quando esse espelho interno reflete. Mas, não importa, não há porque transformar tudo em lamentações.
Às vezes, perdemos o rumo, a trilha, as estribeiras, a bússula, perdemos a nave de sonhos espaciais. Perdemos tudo sem encontrar algo que substitua o buraco negro. Esquecemos, não vemos, não compreendemos, não percebemos, enfim, em um ato final e inconsciente, só pensamos em nós mesmos, esquecendo totalmente quem está ao lado.
E quem vai acalmar o vento ?
Foi então que, deitada na minha cama e acolhida por ela, vi e ouvi o vento e lembrei de mim mesma varrendo tudo. Da falta de ar antes, assim como um vento preso. E depois de ventar bastante, foi que me senti, de repente, à vontade. E revi o que tem de importante na solidão: não podemos tirar de ninguém o direito a ela! Ela também nos é cara.
Em algumas relações  usa-se demais os extremos: ou sozinho ou sufocado. E quando se está sufocado, sobra o sentimento de estar sozinho de si mesmo e acabamos entrando nas ações diárias, tomando espadas que não nos pertencem, rotinas criadas, e mais uma infinidade de coisas que apenas sufocam ainda mais!
Esquecemos muitas vezes do companheirismo. Na luta, sentimos todas as mágoas à tona. Sendo elas verdadeiras ou não, em dado momento elas simplesmente existem e são vividas com toda a sua intensidade.
Em um momento de crise de um casal, quem está de fora percebe logo que alguém está agindo da mesma forma com outro alguém que age também da mesma forma, em uma receita funesta!
E para ser sincera, mesmo depois da minha ventania, ainda há vento preso em mim e eu não quero me acostumar com essa angústia… vejo claramente que preciso continuar comigo mesma de uma forma mais amigável.
Muitas vezes , nos cobramos muito , exigindo tudo, sendo que na vida real, nós sabemos, que só é possível ter um pouco de cada vez.
O melhor é parar para ver: pode ser a hora de mudar, transformar, mexer com as estruturas. Essa é a morte de todo dia!
Hoje o vento está enlouquecido mas, eu só tenho a agradecer. Ele chegou para me deixar imóvel e sozinha. 
E eu pergunto: quantas vezes a gente se dá conta de que o coração precisa passar a  trabalhar de novo, que ele anda adormecido e que só estamos vivendo as próprias vísceras ?


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009


Tarde demais…

Tarde demais para perceber que você foi o predador da minha psique.
Uniu-se diabolicamente com o meu lado mais auto-destrutivo para me detonar aos poucos,
acabar aos pouquinhos com as minhas verdades, sempre questionadas,
com as minhas opiniões, sempre inadequadas,
com os meus valores, reduzidos a pó.
Eu que antes via tudo, farejava tudo ,fui acusada tantas vezes de encrenqueira,
para depois, ter que resolver com minhas próprias mãos os problemas pequenos, tendo sido quadruplicados.
Quem ama demais não deveria detonar o outro desta maneira.
Sempre dando muito aos olhos alheios, destruindo em troca o que eu tinha de mais valioso: a minha alma.
E hoje, vendo como fala comigo e o seu ar de bom moço,
Vejo o quanto fui esse tempo todo mal-amada, amor de mentira, amor de prisão.
Me sinto apenas uma mulher sugada!!!! Mas, ainda luto com o vilão…
Esse vilão que aos olhos dos outros é tão bonzinho, tão bacana, quase irmão.

"A culpa é minha, eu ponho ela onde eu quiser"
- escrito pregado na parede do banheiro feminino do bailinho , sábado passado.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Barata e Laura



Desenho: Giulia Gallo


Laura havia passado o final de semana bem. Maria, sua única filha de 4 anos estava com ela. No domingo foram `a praia de tarde, e de volta `a casa, depois de lavar aquele monte de brinquedos sujos de areia, ficaram vendo desenho na televisão.
O Eduardo estava completamente distante depois da última conversa que tiveram e nem mesmo pensou em telefonar para saber ao menos de Maria. Laura também não ligou mas, ficou incomodada. Pensava: “como dormi e acordei com um homem durante 9 anos, e depois ele se quer tem o interesse de saber se a filha está bem?”
Estava ela remoendo estes pensamentos medíocres, porque bem sabia que os sentimentos não são assim… quando abriu o armário da cozinha e deu de cara com uma imensa, mas imensa barata arrebitada com as anteninhas balançando… Bateu a porta do armário exatamente na cara dela, enquanto ecoou um berro meio trêmulo. Saiu da cozinha para o quarto na intenção de avisar `a Maria de que não iriam jantar em casa, mas a coitadinha tinha se assustado com o grito e já estava na porta. Ao ver a mãe perguntou o que aconteceu e depois que ouviu a explicação de Laura, logo se animou: “- vamos lá ver!”
Ao que ouviu como resposta um não, categórico!
Laura entrou com a menina para o quarto e como em um surto, pegou o telefone e ligou para o Eduardo. Pediu que ele aparecesse para as defender!
Fez isso questionando : “Meu Deus, será que existe mulher mais estúpida que eu!”
Eduardo atendeu o telefone sonolento e apenas disse:
“- não. É óbvio que não vou até ai para matar uma barata pra você! Fale com o porteiro!”
Muita coisa passava pela cabeça de Laura ao mesmo tempo:
“…dei a oportunidade imperdível dele dizer um não tão redondo e firme, que fez um eco no telefone.”
“ tudo bem… reconheço que minha atitude é ridícula, mas vou insistir…”
Ela acabou implorando, e como a negativa continuava, gritou ao telefone dizendo que Eduardo não era e nunca havia sido seu amigo...
Óbvio que aquele ataque de Laura, não se deu apenas pela barata, mas aos olhos desconectados de Eduardo, ela estava agindo como uma imbecil.
Laura acabou a noite fazendo ovo mexido no microondas, até porque ela não sairia para jantar de baixo do maior temporal com Maria. Foi dormir pensando que aquela barata continuava viva…
No dia seguinte, uma segunda-feira, deixou a empregada a cargo de procurar a tal pela casa e foi ao super-mercado comprar um daqueles sprays mata-barata.
O episódio a havia marcado de tal forma que durante algum tempo passou a carregar aquilo para todo canto da casa que fosse.
Hoje em dia está menos písica e consegue deixá-lo guardado no armário da área para eventuais necessidades. Já usou duas vezes com sucesso. 

A Paixão Segundo GH

Estou lendo "A Paixão Segundo G.H." de Clarice Lispector.
É realmente incrível como ela consegue fazer com que a personagem tenha um encontro tão profundo e reflexivo consigo mesma, apenas devido a um encontro inesperado com uma barata e tudo o que o ser inferior representa.
Para quem não conhece o trabalho, transcrevo uma pequena introdução escrita por Clarice:

" A POSSÍVEIS LEITORES
Este livro é como um livro qualquer.
Mas eu ficaria contete se fosse lido apenas
por pessoas de alma já formada.
Aquelas que sabem que a aproximação,
do que quer que seja, se faz gradualmente
e penosamente- atravessando inclusive
o oposto daquilo que se vai aproximar.
Aquelas pessoas que, só elas,
entenderão bem devagar que este livro
nada tira de ninguém.
A mim, por exemplo, o personagem G.H.
foi dando pouco a pouco uma alegria difícil;
mas chama-se alegria.

C.L."

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Realização - Sophie Calle

Hoje fui `a palestra da artista francesa Sophie Calle, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Muita coisa veio como confirmação do meu momento exploratório de agora...  devo acreditar em uma busca ao acaso ? 
Ela começou a seguir as pessoas em Paris, aos 16 anos, para ganhar uma energia que não tinha e conhecer lugares que não conhecia. Até que um dia seguiu um homem e por acaso em outro dia o encontrou novamente. Resolveu então embarcar para Veneza atrás dele. E lá ficou seguindo pessoas e fotografando-as. `A princípio, ela não pensava em expor as pessoas ou que estava fazendo algum trabalho artístico. Era apenas a busca de algum caminho.
"Ao seguir as pessoas procurava um elo que me ligasse a elas , sem que me vissem. Uma forma de me envolver sem reciprocidade."


No segundo "experimento" , uma mulher que trabalhara com ela pediu para descansar um pouco.  Sophie cedeu sua cama e a partir daí,  passou a alternar pessoas dormindo na mesma. Ela pedia a quem fosse em sua casa, que dormisse um pouco. De desconhecidos, como um padeiro, a amigos. E então ficava observando a pessoa em questão dormindo e as fotografava. 
Um crítico de arte perguntou se ela gostaria de expor o trabalho e assim foi que ela se tornou artista consciente.
"Esse trabalho me deu uma profissão; prazer; uma vida. Antes eu apenas pagava".


E outros trabalhos se seguiram a este. Sempre com este ritual de seguir e de começar o trabalho ou mesmo pará-lo ao acaso. Apenas seguindo também uma idéia inicial e fazendo com a idéia um mesmo ritual..
"O ritual estabelece limites e trás um certo conforto para criar."


Ela passou a dar mais importânica ao texto do que a imagem. Apenas fotografa as pessoas, objetos de seus trabalhos, quando as fotos faziam parte da relação. Se não, contratava fotógrafos profissionais.
"O trabalho não é documental e nem fictício. Trata-se de uma mistura porque são os momentos  selecionados  por mim que entram em jogo."


Um dos relatos mais curiosos da palestra, foi quando ela contou do trabalho que fez a partir de uma agenda de endereços que encontrou na rua. Ela devolveu a agenda ao dono, não sem antes fotocopiá-la. A partir daí, ela passou a visitar as pessoas cujo nome, telefone e endereço se encontravam na agenda para que fizessem uma descrição do dono da mesma. Algumas pessoas não quiseram falar, outras falaram porque achavam que o dono iria adorar o trabalho; outras contavam casos engraçados, e assim ela foi montando um quebra-cabeça sobre a vida do sujeito. O trabalho foi publicado no jornal Liberacion e causou enorme polêmica sobre a verdade e a mentira, inclusive entre os jornalistas. O dono da agenda resolveu processá-la e só desistiu da acusação depois de achar uma foto de Sophie nua e exigir a publicação no mesmo jornal.


Mesmo com tantos trabalhos realizados, Sophie não levou `a diante todas as idéias que teve. Disse que um determinado projeto lhe custou 16 anos de tentativa. Mas por não gostar de perder, resolveu abandoná-lo e fazer do mesmo um trabalho sobre o fracasso.
" O fracasso quase sempre faz parte dos projetos. Por isso gosto de estabelecer regras."


Amanhã ela inaugura sua exposição no MAM sobre o namorado que lhe deu um fora através de um e-mail, cuja última frase era "cuide-se". Foi para curar o luto que desenvolveu o projeto. Ela pediu que artistas de mídias diferentes interpretassem uma resposta para o e-mail recebido.
"Passei três meses perguntando `as pessoas quando elas mais haviam sofrido. Era uma tentativa de relativizar a minha dor, ouvindo relatos piores do que o que eu estava passando. Só parei de entrevistar quando percebi que já não estava mais sofrendo."


Sophie tornou-se dona de histórias incríveis porque seu trabalho se confunde com a sua existência

E a partir da pergunta de uma pessoa da platéia respondeu qual era o sentido da vida :
" Para mim é viver com o máximo de emoção, estar apaixonada, manter os amigos e não se entediar. E para você , qual é ?" Quis saber também.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Conversa rápida

Hoje conversei com a minha avó. Foi uma conversa rápida, como devem ser as conversas entre os vivos e os mortos.
Ela disse que eu não deveria estar `a procura de nada que não fosse exatamente o Magnífico em mim. Explico. Ando me sentindo inútil. E foi justamente o que busco, esta utilidade "mundana", que  ela disse que eu deveria abandonar.
???
Ela explicou. Disse que não tem nada a ver com deixar de ser mãe, ou deixar de fazer a minha casa funcionar financeiramente e na prática, ou deixar de trabalhar. Tem a ver com apenas dar total importância e gastar minhas energias com aquilo que eu faça sem esforço, utilizada como instrumento por forças maiores.
Fiquei mesmo estarrecida e perguntei irônica: "E por acaso vó, eu sei o que sou eu purinha, sem estar contaminada pelos desejos do mundo inteiro ? Essa seria a descoberta de toda a minha vida! A minha missão"!
Mas, só como a minha vó era capaz de fazer, não deu a mínima para a minha reclamação e falou com firmeza: "Quer se realizar ? Então escute o que eu disse." e se calou.

Sem perder tempo

- Já que veio até aqui, entra e escuta. Faz logo o que tem que fazer, diz o que veio dizer e pare de perder tempo!

- Calma, não me sinto tão `a vontade ...é como se eu estivesse no escuro sem saber onde é o interruptor... ainda estou tateando as paredes!

domingo, 6 de dezembro de 2009

As colchas




Quando criança minha avó materna fazia belos trabalhos em croche.
No meu quarto e  do meu irmão, colchas e cortinas feitas por ela decoravam o ambiente com conforto e simplicidade. Incrível como ela conseguia fazer o masculino e o feminino com tanta diferenciação, apenas com os pontos de croche que usava.
Lembro dela ter feito uma bela colcha de casal com uma coloração pérola e motivo de rosas para minha mãe. Colcha esta, que não era muito usada e por isso sofria inúmeras reclamações da parte de minha avó.

Quando jovem-adulta, também ganhei dela uma bela colcha branca para a minha cama. Era para eu usar quando me casasse! Na época, vi a colcha como mais uma das colchas de croche da minha avó e dei-lhe importância apenas pelo gesto amoroso. Não a usei por um bom tempo.

Mas, como tudo tem uma primeira vez, lembro nitidamente quando a coloquei na minha cama:
Eu já estava morando junto com o meu marido quando , em um aniversário, acordei com aquela tristeza abafando o peito…lancei mão da colcha de croche ao me lembrar da minha avó e da parceria romântica que tinha com o meu avô.
A lembrança que tenho dela era de uma mulher apaixonada e determinada, seja para conseguir viver  ao lado do homem que ela amava, contrariando todas as regras familiares e sociais, seja para construir uma casa, ou para alfabetizar uma população no interior do Estado do Rio. Penso no meu avô, como um homem forte, aventureiro e turrão. Ele construiu uma escola para a minha avó e ainda foi o merendeiro da mesma. Muito mais tarde, também construiu a casa onde eles dois moraram até o fim de suas vidas.

Portanto, a colcha que ela pacientemente fez para mim, representou isso tudo. Ao colocá-la na cama, tomei outra postura e me senti mesmo dona de uma história feliz.

Dez anos depois, quando me separei,  ao me deparar com o suor e as lágrimas pela mudança, lancei mão de outra colcha feita pela minha avó, que herdei da minha mãe: une diversos retalhos com pontos de croche vermelho.  Esta era uma colcha que minha mãe usava bastante.
Forrar a tal colcha na minha cama e admirar o trabalho feito pelas mãos de minha avó, foi como tomar um tonificante enriquecido. Me senti bem mais forte.

E com isso, ainda desenvolvi uma técnica de conversar com a minha avó de vez enquando e sentir a presença dela nos momentos mais fortes: felizes ou tristes.

Engraçado, que como a minha mãe, a de croche também uso bem pouco. Mas, passei a colocá-la na minha cama em todos os meus aniversários. Já a de retalho é de uso diário.

Seja porque existe nos objetos que nos cercam a energia de quem faz e de quem usa, seja pelo significado de histórias que trazem, as coisas passadas de pai para filho, de avó para neta, de madrinha querida para afilhado, como em um passe de mágica, nos tornam pessoas especiais.



sábado, 5 de dezembro de 2009

Apresentação



Aqui eu pretendo postar um pouco do que passa pela minha cabeça, porque é totalmente necessário aproveitar o momento "no céu com diamantes"! 
Obrigada por visitar!