Hoje fui `a palestra da artista francesa Sophie Calle, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Muita coisa veio como confirmação do meu momento exploratório de agora... devo acreditar em uma busca ao acaso ?
Ela começou a seguir as pessoas em Paris, aos 16 anos, para ganhar uma energia que não tinha e conhecer lugares que não conhecia. Até que um dia seguiu um homem e por acaso em outro dia o encontrou novamente. Resolveu então embarcar para Veneza atrás dele. E lá ficou seguindo pessoas e fotografando-as. `A princípio, ela não pensava em expor as pessoas ou que estava fazendo algum trabalho artístico. Era apenas a busca de algum caminho.
"Ao seguir as pessoas procurava um elo que me ligasse a elas , sem que me vissem. Uma forma de me envolver sem reciprocidade."
No segundo "experimento" , uma mulher que trabalhara com ela pediu para descansar um pouco. Sophie cedeu sua cama e a partir daí, passou a alternar pessoas dormindo na mesma. Ela pedia a quem fosse em sua casa, que dormisse um pouco. De desconhecidos, como um padeiro, a amigos. E então ficava observando a pessoa em questão dormindo e as fotografava.
Um crítico de arte perguntou se ela gostaria de expor o trabalho e assim foi que ela se tornou artista consciente.
"Esse trabalho me deu uma profissão; prazer; uma vida. Antes eu apenas pagava".
E outros trabalhos se seguiram a este. Sempre com este ritual de seguir e de começar o trabalho ou mesmo pará-lo ao acaso. Apenas seguindo também uma idéia inicial e fazendo com a idéia um mesmo ritual..
"O ritual estabelece limites e trás um certo conforto para criar."
Ela passou a dar mais importânica ao texto do que a imagem. Apenas fotografa as pessoas, objetos de seus trabalhos, quando as fotos faziam parte da relação. Se não, contratava fotógrafos profissionais.
"O trabalho não é documental e nem fictício. Trata-se de uma mistura porque são os momentos selecionados por mim que entram em jogo."
Um dos relatos mais curiosos da palestra, foi quando ela contou do trabalho que fez a partir de uma agenda de endereços que encontrou na rua. Ela devolveu a agenda ao dono, não sem antes fotocopiá-la. A partir daí, ela passou a visitar as pessoas cujo nome, telefone e endereço se encontravam na agenda para que fizessem uma descrição do dono da mesma. Algumas pessoas não quiseram falar, outras falaram porque achavam que o dono iria adorar o trabalho; outras contavam casos engraçados, e assim ela foi montando um quebra-cabeça sobre a vida do sujeito. O trabalho foi publicado no jornal Liberacion e causou enorme polêmica sobre a verdade e a mentira, inclusive entre os jornalistas. O dono da agenda resolveu processá-la e só desistiu da acusação depois de achar uma foto de Sophie nua e exigir a publicação no mesmo jornal.
Mesmo com tantos trabalhos realizados, Sophie não levou `a diante todas as idéias que teve. Disse que um determinado projeto lhe custou 16 anos de tentativa. Mas por não gostar de perder, resolveu abandoná-lo e fazer do mesmo um trabalho sobre o fracasso.
" O fracasso quase sempre faz parte dos projetos. Por isso gosto de estabelecer regras."
Amanhã ela inaugura sua exposição no MAM sobre o namorado que lhe deu um fora através de um e-mail, cuja última frase era "cuide-se". Foi para curar o luto que desenvolveu o projeto. Ela pediu que artistas de mídias diferentes interpretassem uma resposta para o e-mail recebido.
"Passei três meses perguntando `as pessoas quando elas mais haviam sofrido. Era uma tentativa de relativizar a minha dor, ouvindo relatos piores do que o que eu estava passando. Só parei de entrevistar quando percebi que já não estava mais sofrendo."
Sophie tornou-se dona de histórias incríveis porque seu trabalho se confunde com a sua existência
E a partir da pergunta de uma pessoa da platéia respondeu qual era o sentido da vida :
" Para mim é viver com o máximo de emoção, estar apaixonada, manter os amigos e não se entediar. E para você , qual é ?" Quis saber também.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
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