quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Uma historinha leve

Uma historinha leve para desanuviar...


Desenho: Giulia Gallo

Oito horas da manhã.
O despertador toca tirando Ariela lentamente do sonho que vai se esvanecendo aos poucos.
Uma leve abertura de olhos que num segundo tornam a fechar, é suficiente para que a luz do dia invada a mente dela.
Mas, o que vai dentro de Ariela ainda é aquela sensação gostosa de cama quente, primeira hora do dia, repleta de silêncio interior.

É verdade que isso dura pouco. Logo, os primeiros pensamentos do dia  – a discussão com o namorado ontem de noite, a dificuldade de se comunicar e o sentimento de incapacidade lhe chegam de uma só vez .
E são essas lembranças que tomam o corpo de sensações ruins, como aperto no peito, angústia e aflição.

O telefone toca e a não ação.
Vira-se de lado querendo dormir de novo mas, é impossível. A mente de Ariela já acordou. Mesmo assim ela fica imóvel, aproveitando mais um pouco o conforto físico.

Já são nove horas e vai ser difícil chegar a tempo no primeiro compromisso do dia.

Não vai dar para tomar café da manhã ,e o humor dela nunca é dos melhores quando a manhã se inicia com pressa.

Sem se quer  espriguiçar ela sai da cama num impulso e sente uma pequena contração no pescoço. Corre para o chuveiro e descobre já encharcada que não há sabonete no box. Sai do chuveiro com frio e começa a procurar nas gavetas e armários do banheiro onde por diabos foram guardados os maravilhosos sabonetes que comprou na véspera. Finalmente os encontra e volta ao banho.
Era preciso lavar o cabelo mas, não vai dar tempo. 
O banho acontece em menos de 5 minutos. Uma corrida até o closet para escolher uma roupa e a sensação de tristeza pela briga da noite anterior a invade novamente.
Sentada e desanimada, ela olha para as roupas milimetricamente dobradas e arrumadas pela cor e ali gasta mais preciosos 15 minutos sem ação.
Poderia combinar a calça cinza com a blusa de seda preta que não teria erro. Mas como os pensamentos ainda não estão bem colocados, concentrar-se passa a ser uma missão impossível.

Ariela pensa em ligar para o namorado, mas sabe que não tem tempo para isso. Ela tem um encontro com um importante representante francês no escritório `as dez horas.

Diante do closet lotado e de sua incapacidade de decisão, Ariela começa a mexer o pescoço em sentido rotativo na intenção de soltá-lo. E em voz alta resolve reclamar a Deus sobre o que a incomoda: “ já não basta essa angústia, a correria, o atraso, ainda vai me deixar com torcicolo ?”

Dez horas.
Ariela ainda está de calcinha e sutien.
Depois de muito bagunçar a área bege/marrom de seu closet, escolhe uma saia pregueada , calça as belas botas de salto fino e continua procurando por uma blusa creme entre as vinte blusas da mesma cor e de todos os tipos que tem em seu armário. Já com raiva, reinicia suas reclamações em voz alta:
 “E então, tá gostando , se divertindo comigo hoje ? Resolveu fazer da minha manhã um inferno ? ”

Ariela volta ao banheiro para pentear o cabelo e subtamente escorrega na aguaceira que deixou no piso ao procurar o sabonete. Ela tenta se equilibrar, mas os saltos muito finos facilitam a queda.
Ela bate com a cabeça no armário da pia, cai estirada no chão, as pernas para o ar, a roupa molhada, o torcicolo que piora, os palavrões que vem a boca, as lágrimas que escorrem dos olhos, a raiva, a raiva, a raiva.

Ariela está novamente deitada. Agora , no chão frio, completamente atrasada e repleta de descontentamento interior.

Ela chora e soluça. Chora pela dor física, mas principalmente pela briga com o namorado na noite anterior.
Finalmente, depois de algum tempo e do desabafo, Ariela consegue se levantar com calma e com a decisão de não ir mais ao trabalho.
Ela caminha até a sala para pegar o telefone e humildemente se desculpar por desmarcar em cima da hora uma reunião tão importante. Mas, como a luz da secretária eletrônica está piscando,  ela resolve ouvir o recado:
“ Ariela, O Sr. Renault desmarcou a reunião de hoje. Parece que ele sofreu um acidente doméstico, mas, não é nada grave. Ele poderá vir amanhã. Pediu que vc ligue para remarcar. Até mais tarde.”

Moral da história 1: não brigue com seu namorado na véspera de uma reunião importante.

Moral da história 2: sempre pode ficar pior.

Moral da história 3: nunca deixe de atender o telefone

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